quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Análise: Autocensura

 

Análise: Autocensura

 

OFICINA GRAMATICAL

Obra: Autocensura

Negrito cinza: remoção.

Negrito azul: inserção.

 

ÍNDICE DAS OBRAS REVISADAS

AUTOCENSURA

 

A noite brincava nas sombras da floresta como a esconder fantasmas do passado. Um cheiro doce de flores adormecidas inundava o parque.

 

Silente, cabisbaixo, pensativo... Tomé contava os passos por sobre as folhas caídas do outono. Já era quase meia noite,1 e o sono ainda não lhe pesava nas pálpebras.

 

O parque, uma imponente reserva florestal incrustada entre o caule da montanha e as barbas brancas do mar, seria a única testemunha do que viria acontecer:

 

2A Tomé!... —2B Brada uma voz no cimo da montanha.

 

3 Tomé! ... —2B Repete a voz mais perto dos ouvidos.

 

O homem emerge dos seus profundos pensamento para a realidade,4 que se lhe apresenta mais etérea que um sonho e mais sólida que a matéria.

 

— 5AQuem é? 5B  Indaga Tomé.

 

—Eu sou a tua consciência, Tomé!  Não me reconheces?

 

Tomé encalha a surpresa no meio da voz, que teima, inutilmente, se fazer ouvir.

 

—Que fazes acordado no meio da noite6, Tomé?

 

O homem não responde!. 7

 

A lua força a copa das árvores para chegar mais perto no chão, como que a iluminar um ato de teatro no qual Tomé era o protagonista.

 

Atordoado,8 Tomé consegue finalmente libertar a voz:

 

— Não fui eu!... Não fui eu!... Eu não fiz nada!

 

— O que tu não fizeste9, Tomé?

 

— Elas já estavam quase mortas quando cheguei. Aquelas crianças malvadas! Foram elas! Eu as vi atirando pedras sobre o ninho. Pobres criaturas! Tão belas, tão indefesas, apedrejadas até a morte, uma a uma, sem escrúpulos, sem pudor nem piedade,10 sob os risos ensandecidos das crianças.

 

— Que fizestes11 tu12 para impedi-las, Tomé!

 

— Eu? Bem...  O que eu poderia fazer?

 

— Sim, tu! O que tu poderias fazer?

 

— Apenas recolher os corpos sem vida e atirá-los ao mar. Foi o que fiz!

 

— E quanto às crianças, Tomé?

 

— Aquelas malditas sem pai nem mãe...  Elas não têm idéia do que fizeram.

 

Mataram, talvez, os últimos espécimes de Araras13 azuis na face da terra.

 

—Porque não foste falar com os pais das crianças, Tomé?  Repreendê-los por não as terem educado quanto à nN14atureza?

 

Tomé pensou um pouco nos seus próprios filhos. Abaixou a cabeça e, passo a passo, por sobre as folhas caídas do outono, andou sem rumo.

 

As copas das árvores finalmente apagaram a lua, cerrando as cortinas do teatro. Não houve aplauso, apenas um silêncio de doer na consciência.

1 — No período que vai de “Já era...”  a   “pesava nas pálpebras”, há dois verbos (“era” e “pesava”), correspondendo, portanto, a duas orações, que, no caso, são orações coordenadas. Quando os sujeitos das orações coordenadas são diferentes, cabe separá-las por vírgula.

 

2A e 2B — Num diálogo, o que não faz parte do mesmo deve ser separado por travessão na mesma linha, e cabe espaço entre o travessão e palavra seguinte. (No Word, para inserir um travessão, use o atalho Alt + 0151).

 

3 — Novos diálogos, ainda que de um mesmo agente transmissor, devem ser iniciados em novo parágrafo. Entre o travessão e a palavra que o inicia, cabe um espaço.

 

4 — Se, no contexto, houvesse várias realidades, e o autor estivesse referindo-se a uma dessas (ou seja, dentre as realidades, a que “se lhe apresenta mais etérea”), não caberia vírgula. Todavia, havendo apenas uma realidade, como é o caso, o “que” deixa de ser pronome relativo e passa a ser conjunção, cabendo aí separar por vírgula o segmento que antecede o “que”.

 

5 — Vide 2A e 2B.

 

6 — O vocativo “Tomé” deve estar separado por vírgula.

 

7 — Exclamação descabida. Substitua por ponto.

 

8 — Adjetivo restritivo (“atordoado”), funcionando como predicativo do sujeito (Tomé), deve ser grafado entre vírgulas.

 

9 — Vide item 6.

 

10 — Locução adverbial (“sob os risos ensandecidos das crianças”), referindo-se a termo ou circunstância distante (“apedrejadas até a morte”), deve, em homenagem à clareza, estar separada por vírgula, apesar de estar posicionada na sua ordem direta (final da oração).

 

11 — Eu fiz, TU FIZESTE, ele fez.

 

12 — Pleonasmo pronominal. O “tu” é desnecessário, vez que o verbo já o determina.

 

13 — Substantivo comum (arara), não estando em início de parágrafo, deve ser grafado com inicial minúscula.

 

14 — Nome que designa conjunto de conhecimentos, tomado na sua dimensão mais ampla (Natureza) é substantivo próprio, devendo, portanto, ser grafado com inicial maiúscula.

 

 

 

 

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